Atendendo ao facto de o mundo estar
em constante mudança e de vivermos na era dos nativos digitais, onde as novas
tecnologias têm utilização diária, devemos repensar a forma como se educa estas
novas gerações, tendo em conta o diferente modo de comunicar, de aceder à
informação e de a reter. Essa mudança deve partir principalmente da escola,
pois devem ser recriadas práticas pedagógicas, sendo que tanto professores como
o seio familiar têm um papel importante nessa preparação.
Segundo Castells (2006) “a escola
não pode tratar esta geração do mesmo modo que tratou as anteriores” (Flores
& Ramos, p. 197, 2016) e ao partilharmos da mesma opinião, consideramos que
no futuro as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) devem ser
introduzidas nas nossas práticas enquanto educadoras/professoras, visto que é
um meio com elevadas potencialidades. Porém “(…) as TIC, em si mesmas, não são
educativas, nem melhoram o ensino, mas dependem do modo como são utilizadas
(…)” (Coutinho, 2017). Contudo, se utilizadas corretamente, alguns estudos
revelarem que, quando um aluno apenas vê e ouve o docente, cerca de 30% da
informação fica retida, enquanto durante uma interação 70% da informação é
armazenada (Gonçalves A. , 2012). Por esta razão afirmamos, que as TIC
podem constituir uma grande vantagem no processo de ensino-aprendizagem das
crianças e jovens, podendo tornando as aulas mais dinâmicas, atraentes e
motivadoras.
Todavia, as TIC constituem um grande
desafio para o professor, que deve ser um facilitador da aprendizagem, um
mediador e incentivador à pesquisa e construção de conhecimento. Para além
disso, cabe aos docentes encontrar novas práticas pedagógicas que respondam não
só aos interesses, características, possibilidades dos alunos e aos objetivos
da aula, como também promovam o pensamento crítico, reflexivo e criativo. Ao
aluno é igualmente atribuído um papel diferente do antigamente, passando a ser
um sujeito ativo na construção do seu conhecimento. (Flores & Ramos,
2016) (Pocinho & Gaspar)
Com as novas tecnologias é possível
quebrar barreiras entre o docente e os alunos sendo que podem constituir formas
diferentes de interação e comunicação, como por exemplo, através de blogues e
redes sociais. (Pocinho & Gaspar) As plataformas educacionais como a
Plataforma Adaptativa de Matemática (PAM) ou
a ScootPad e a criação de e-learning (modelos de ensino não presencial),
são alguns exemplos de que as redes digitais permitem a partilha de grandes
quantidades de informação num curto espaço de tempo proporcionando ao aluno um
estudo autónomo. O Scrash é também uma ferramenta que pode ser utilizada
pelo docente no ensino da matemática, através do computador, o que pode ajudar
as crianças a ver o lado divertido e dinâmico desta área disciplinar e não um
“bicho de sete cabeças” como é frequente.
Embora haja vantagens a nível
educacional, existem problemas relacionados com o acesso aos recursos TIC,
principalmente dentro do âmbito escolar, obstáculos esses que dizem respeito à
falta de: tempo (a exploração das TIC leva algum tempo), formação,
acessibilidade e apoio técnico (sites que não abrem, problemas no acesso à Internet e mau funcionamento dos computadores). Outro aspeto que deve ser tido
em conta é o aspeto social do aluno, o que pode gerar diferentes possibilidade
de adaptação às novas tecnologias. (Pocinho & Gaspar) É importante garantir
o acesso às TIC tanto ao nível de casa como da escola. Se por um lado as TIC
requerem uma grande aposta financeira inicial, a longo prazo pode trazer
benefícios na medida em que os trabalhos deixam de ser obrigatoriamente
impressos, podendo ser entregues através do computador a partir do moodle
que, para além de ser uma plataforma de apoio à aprendizagem, se torna numa
“reprografia” digital, o que ajuda igualmente a nível ambiental, existindo
menor gasto de papel, até a nível da produção de manuais escolares.
Porém, as TIC têm também malefícios
a nível de saúde, pois o excesso de tempo expostos ao longo do dia à frente dos
ecrãs pode levar a problemas, principalmente ao nível da visão. Além disso, a
utilização de computadores, tablets ou telemóveis na sala de aula pode
causar algum tipo de distração aos alunos, visto que podem aproveitar o uso
dessas tecnologias para outras atividades como jogos eletrónicos e redes
sociais que podem influenciar negativamente o seu desempenho escolar.
No entanto, as vantagens da sua
utilização não implicam prescindir das práticas tradicionais de ensino,
tentando ao máximo conciliar ambos, (Gomes & Carvalho, 2008) até porque
para esta nova geração o desafio na utilização das TIC não está na capacidade
técnica, mas sim na capacidade da seleção de informação e no critério que
utilizam para tal, ou seja, por outras palavras “A utilização da informática na
aquisição e construção de conhecimento não se resume nem se esgota no saber
como utilizar o computador”. (Pocinho & Gaspar, p.147) Para além disso,
após estarem capacitados para pesquisar e procurar a informação, é imprescindível
que saibam igualmente gerir e cruzar a informação recebida. Consequentemente é
preciso ter desenvolvido um sentido crítico em relação ao que se lê, pois a
nosso ver as tecnologias podem representar a maior ferramenta de manipulação.
A escola e seus profissionais tem
como dever, desde o ensino do 1º ciclo, preparar um currículo de modo a
assegurar aos alunos um futuro profissional competitivo desenvolvendo novas
técnicas pedagógicas tendo em conta a alteração do processamento de informação,
onde têm lugar as novas tecnologias de informação - computador e Internet –
devendo estas ser uma ferramenta de apoio ao estudo e na realização de
trabalhos escolares em todas as áreas curriculares. Hoje em dia, podemos
constatar que a grande maioria dos trabalhos escolares são manuscritos, sendo
que, quando os alunos iniciam o 2º e 3º ciclo de escolaridade, é exigido que
saibam utilizar o editor de texto com alguma facilidade. (Gonçalves A. R.,
2012) No entanto, somente no 3º ciclo é que a disciplina de TIC surge, no que não
podemos concordar, pois deveria ser integrada na educação de forma transversal.
Esta integração tardia das TIC no currículo pode levar a uma apreciação menos
positiva do seu uso em sala de aula, pois pode gerar problemas de literacia
digital devido à falta de instrução inicial por parte de alguns alunos. Neste
sentido, o ensino primário é o mais desatualizado, pois as pedagogias
educativas ainda se baseiam quase exclusivamente no uso de canetas, lápis e
manuais para ensinar a ler, contar e escrever.
Apesar de em Portugal, no ano de
2007, ter sido aprovado o Plano Tecnológico para a Educação com a formação de
projetos e leis legislativas, onde foram lançados para todos os níveis de
ensino regular equipamentos como o computador “Magalhães” e os quadros interativos
(Gonçalves A. , 2012), os docentes continuam reticentes à sua utilização. Esta
pouca utilização das TIC no ensino poderá ser explicada com o facto de as
mudanças tecnológicas levarem os docentes à reconstrução de todo o material de
trabalho criado ao longo dos anos de carreira ou por ainda existirem docentes
com falta de formação em relação às TIC, sendo esta crucial para ganharem
confiança nesta área e consequentemente poderem inovar as suas práticas
educativas que se querem satisfatórias para os alunos tanto a nível intelectual
como emocional. (Flores & Ramos, 2016) (Gonçalves A. , 2012) Isto é, a
seleção de recursos e estratégias a utilizar por parte do docente deve tornar
“(…) o processo de ensino e aprendizagem num momento de prazer, onde o conhecimento
é construído fluidamente e de modo articulado”. (Flores & Ramos, p.198,
2016)
Em suma, a integração das TIC no
espaço educativo é um processo desafiante e nada simples, tendo em conta que
requer trabalho e empenho principalmente por parte dos professores. No entanto,
a internet vai estar sempre, e cada vez mais cedo, presente na vida dos alunos.
Logo não devemos fugir ao inevitável, tendo em conta que começamos a lidar com
uma “geração Net”, que possui uma identidade peculiar. O melhor é instruir, em
vez de deixar usar de forma desacompanhada e desapoiada. Atualmente existe um
número considerável de docentes a optar pela utilização das TIC em sala de
aula, porém, segundo Flores & Ramos (2016) a utilização só por si não é
representativo como um fator de mudança, porque na maioria das vezes as TIC não
são corretamente introduzidas. A partir do momento em que as TIC são
trabalhadas com o intuito de envolver os alunos, colocando-os em contacto
direto com estas ferramentas, podem levar a aprendizagens significativas, tanto
no ramo pedagógico como pessoal e social, “A maior parte das vezes é a
facilidade e o prazer que geram no indivíduo empatia pela aprendizagem”.
(Pocinho & Gaspar, p.150)
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